Uma curiosidade interessante sobre Leonardo da Vinci e outros grandes artistas do Renascimento é a forma como produziam suas obras. Muitas vezes, somos levados a acreditar que esses artistas eram indivíduos sobre-humanos que, em um surto de criatividade, criavam suas obras sozinhos. Na verdade, a produção artística naquela época era profundamente condicionada pelos meios de produção disponíveis. Embora o gênio criativo do artista principal fosse o ponto focal, a criatividade e a execução das obras eram frequentemente compartilhadas com uma equipe de aprendizes e outros trabalhadores.
Essa realidade desafia a ideologia dos mitos e figuras sobrenaturais que estão acima dos simples mortais. Sem dúvida, esses artistas eram expoentes extraordinários de sua arte, mas, mesmo assim, devem ser considerados humanos. Trabalharam em colaboração com outros, e suas realizações, por mais brilhantes que fossem, foram tanto resultado de esforços coletivos quanto individuais.
“Muitas vezes imaginamos os artistas como criadores solitários, trancados em um sótão à espera da inspiração. No entanto, como é evidente em seus cadernos e no processo que levou ao desenho do Homem Vitruviano, muitas das ideias de Leonardo foram pensadas coletivamente. Desde jovem, atuando como uma engrenagem no grande esquema de produção artística comandado por Verrocchio em seu ateliê, Leonardo conhecia as alegrias e as vantagens do trabalho em equipe. Segundo Larry Keith, que liderou o processo de restauração da segunda versão da Virgem dos Rochedos, ‘a necessidade de Leonardo de montar rapidamente um estúdio capaz de produzir pinturas, esculturas, espetáculos para a corte e outras atividades significava que ele trabalhava diretamente com vários pintores milaneses renomados, além de treinar seus próprios aprendizes.”
“Para ganhar dinheiro, Leonardo às vezes ajudava os aprendizes a produzir peças como se estivessem em uma linha de montagem — uma prática comum no ateliê de Verrocchio. Segundo Luke Syson, ‘as obras circulavam entre mestre e pupilo por meio de uma técnica de recorte e colagem que envolvia tanto desenhos altamente detalhados quanto esboços.’ Leonardo fazia a composição, os esboços, os estudos e os rascunhos. Os alunos então os copiavam perfurando o papel e trabalhavam juntos na pintura da versão final, geralmente com Leonardo acrescentando seus próprios toques e fazendo correções. Havia variações e estilos diferentes que podem ser identificados na mesma tela. Um visitante de seu ateliê descreveu como ‘dois dos pupilos de Leonardo estavam pintando alguns retratos, aos quais ele ocasionalmente adicionava um toque.”
(de “Leonardo da Vinci” por “Walter Isaacson, André Czarnobai”)
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