Não é nenhuma surpresa que os bombeiros de Los Angeles tenham recebido ordens para concentrar seus esforços nas casas dos ricos e famosos. É provável que alguns tenham questionado por que não estavam ajudando seus concidadãos. Com base em minha pesquisa, o corpo de bombeiros norte-americano possui uma hierarquia quase militar, muito semelhante à do Brasil. Consigo imaginar o prefeito da cidade afetada ligando para o chefe da corporação e emitindo uma ordem direta para priorizar as áreas mais abastadas.
Nicholas Norman, professor de 40 anos e morador de Altadena, expressou sua frustração:
“Não vimos um único bombeiro enquanto jogávamos baldes de água para proteger nossa casa das chamas”, disse ele em entrevista à AFP. A região começou a queimar na tarde de terça-feira (7), com ventos fortes espalhando o fogo.
Ele acrescentou: “Eles estavam ocupados demais em Palisades salvando as propriedades dos ricos e famosos, deixando nós, o povo comum, queimarmos.”
Fico pensando quantas daquelas mansões foram salvas apesar de nem sequer serem residências permanentes de seus donos. E também me pergunto qual o verdadeiro impacto de alguns desses milionários perderem uma de suas propriedades, em comparação com professores e outros trabalhadores assalariados que podem perder tudo o que têm.
Esse tipo de comportamento não é novidade. Basta lembrar o caso do Titanic, talvez um dos exemplos mais infames, onde os botes salva-vidas foram reservados para os passageiros mais ricos. Esses indivíduos embarcavam com calma, enquanto os botes, muitas vezes, desciam ao mar pela metade, para garantir o conforto dos abastados.
Pensemos também em como o novo passatempo dos super-ricos é o turismo espacial, enquanto incontáveis pessoas lutam para conseguir sua próxima refeição. Os exemplos dessas disparidades são infinitos.
ATUALIZAÇÃO (01/12/2025):
Após ler mais notícias sobre o assunto, decidi atualizar este texto. Em uma matéria dos Revolucionários Comunistas da América, encontrei a informação de que os bombeiros não têm conseguido lidar com a situação, nem mesmo nas áreas onde estão plenamente atuando. Para enfrentar isso, o estado de Los Angeles decidiu utilizar mão de obra carcerária para ajudar a combater os incêndios, pagando aos presos um valor muito inferior ao salário mínimo local e oferecendo, como compensação pelo risco à vida, a redução de dias de suas penas. O treinamento fornecido a eles é mínimo, com duração de apenas quatro dias. Agora, além disso, tenta-se empregar também jovens infratores no combate às chamas.
Agrava ainda mais o problema o fato de os bombeiros terem encontrado hidrantes secos devido à privatização dos sistemas de água, o que encerrou a política de prioridade urbana que existia na cidade até 1994. Essa política estabelecia que, em casos de seca, a água da Califórnia deveria ser direcionada prioritariamente aos centros urbanos, para consumo pessoal e combate a incêndios. Hoje, essa água está sendo desviada para empresas agrícolas locais que, embora representem apenas 2% do PIB do estado, consomem 80% da água disponível.
Além disso, o prefeito de Los Angeles decidiu cortar quase 18 milhões de dólares do orçamento do Corpo de Bombeiros — justamente em um período em que o estado não vê chuva há oito meses.
Por fim, mesmo com o racionamento de água imposto no estado, em que cada morador tem uma cota de consumo, os ricos e famosos vêm sendo multados por ultrapassarem amplamente o limite permitido. Kim Kardashian, por exemplo, foi multada por consumir 878.000 litros de água acima da cota estabelecida. O mesmo se aplica a outras celebridades da região. Ah, os ricos… eles realmente não fazem ideia do que está acontecendo ao redor deles.
Alguns links para se aprofundar no tema:
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